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terça-feira, 31 de março de 2015

Conferência aborda o tema jovens e o tráfico de drogas

Conferência realizada ontem (30/3), no auditório da Escola Superior Dom Hélder Câmara, discutiu o
cotidiano dos jovens trabalhadores do tráfico. A professora doutora Marisa Feffermann, autora do livro Vidas arriscadas, contextualizou derrocada do bem-estar social, sobre o estado penal e o estado de direito. Além da cultura da violência. Muitos dados balizaram as questões trabalhadas pela professora para colocar a plateia para pensar: de acordo com dados apresentados, hoje o Brasil é o país que mais encarcera no mundo; o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mostra que o jovem negro pobre morre três vezes mais que o branco; 10% do PIB mundial é consumido com segurança pública. De acordo com a ONU, o faturamento anual com a venda de drogas ilegais é de 400 bilhões de dólares, o que corresponde a 8% do comércio internacional e é supera a indústria automobilística.

A convenção de 1999 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) enfatiza que muitas crianças e jovens estão envolvidos nas piores formas de trabalho infantil. “A criança não está onde deveria estar, a sociedade precisa exigir educação de qualidade”, provoca Marisa.


De acordo com ela, o tráfico é o protótipo da sociedade de consumo, expressa toda a violência nela embutida e produz ainda mais violência.  “No tráfico, ora os jovens são indispensáveis, ora são descartáveis. São vítimas, mas, muitas vezes, tornam-se algozes”, diz. E, ao falar da discussão sobre a redução da maioridade penal, Marisa propõe pensarmos na situação e não no indivíduo.

No final da palestra, os organizadores abriram espaço para perguntas. A vice-diretora do Instituto Direitos Humanos começou o debate pedindo para Marisa Feffermann falar sobre as consequências da legalização das drogas. “O tráfico é que é violento. Ele produz a violência. Sou a favor da regulação, mas, sou contra menor usar drogas. O tráfico é consequência do proibicionismo”, avalia Marisa.

Em seguida, o advogado Wagner Dias Ferreira associou uma passagem do livro de Marisa Feffermann com o próprio trabalho que desenvolve como advogado criminalista e o que desenvolveu no Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM) para que a conferencista analisasse o papel das mães de jovens envolvidos com o tráfico.

“A questão da mãe é mais complicada. Ela é responsabilizada por trabalhar e deixar o filho em casa, depois é responsabilizada pelo filho ter entrado no tráfico e, ainda, quando o filho é preso tem que passar pela revista vexatória para visita-lo. Ela é sempre humilhada. A mãe tem que ser empoderada, inclusive, dou palestras dizendo que ela pode dizer não para o filho”, explica Marisa.

Em seu livro, Marisa diz: “na pesquisa pôde-se perceber que, na maioria dos casos, a mãe é figura muito presente. No discurso dos jovens, a figura da mãe é muito importante, tratam-nas com deferência, são as pessoas em quem podem confiar. A preocupação de não magoá-las é constante, mas isto não os impede de continuar cometendo  transgressões. A mãe representa a continência e proteção. Algumas sabem que o filho está envolvido no tráfico e fazem de tudo para que ele saia. Outras não.

Quando o jovem está devendo dinheiro, são elas que procuram formas para pagar o traficante. Se o jovem é preso, são elas que contratam o advogado, caso o tráfico não o faça. Algumas não suportam o fato de o filho estar inserido no tráfico de drogas e fazem de tudo para mudar a situação.”


Marisa Feffermann é doutora em psicologia escolar e do desenvolvimento humano pela Universidade de São Paulo (USP), onde atua, é professora da faculdade Montessori e pesquisadora do Instituto de Saúde do Estado de São Paulo.

A conferência é uma iniciativa do Instituto Direitos Humanos DH e Lab Trab/UFMG.


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