Pesquisar este blog

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Artigo Alfarrábios práticos do cárcere na imprensa

Para este mês, escrevi o artigo Alfarrábios práticos do cárcere. O jornal Hoje em Dia foi o primeiro a publicá-lo. Outros veículos de imprensa e especializados em Direito também já disponibilizaram, inclusive, minha coluna na revista Dom Total. Nele, falo do ambiente das prisões: "é primazia compreender a partir deste universo singular (o cárcere), as mazelas da humanidade. Seja parando e pensando nos atos bárbaros praticados pelas pessoas que ali palmilham, seja pela ótica do tratamento que a sociedade delega a este ambiente, muitas vezes sem refletir que não cuidar ou desconhecê-lo pode reproduzir suas mazelas ao invés de prevenir e evitar". Convido todos a lerem e conferirem onde ele já está disponível:

Alfarrábios práticos do cárcere 

*Wagner Dias Ferreira

O advogado iniciante, muitas vezes ainda influenciado pelo sentimento academicista, poderia chegar ao trabalho prático com certo preconceito de uma delegacia de polícia; realidade do trabalho pouco referida nos bancos de escola. É bem certo que em nosso país este espaço privilegiado para se definir o destino de um ser humano sofre enorme preconceito por parte dos profissionais. Ora por desconhecimento, que seria superado pelo contato mais frequente, ora por medo mesmo. Apesar de muitos dizerem que advocacia não é profissão de covardes, o medo é um sentimento que precisa ser constantemente enfrentado no dia-a-dia do advogado.
Eis que por todo o período da ditadura militar era comum que o espaço da delegacia de polícia fosse o mesmo da cadeia pública.

Em Belo Horizonte, a Delegacia de Furtos e Roubos na rua Uberaba e o Departamento de Investigações na Lagoinha, mais conhecido como “Depósito de Presos”, foram exemplos típicos, tendo marcado, de forma muito negativa, toda uma geração a divulgação da chamada “Ciranda da Morte”. E até bem pouco tempo ainda era possível visitar e falar com presos nas dependências destes estabelecimentos, agora, desativados.

Eu já tive oportunidade em ambos os lugares quando o dia estava agitado, para facilitar e agilizar o trabalho, de promover conversas com presos nas grades da cela, onde também foi colhida a procuração, ali mesmo em pé na grade, o que permitia uma visão muito singular do ambiente carcerário. Ambientes que também tive possibilidade de visitar como agente de Direitos Humanos numa perspectiva diferente do advogado criminal.

Sempre atento ao ensinamento do colega Adilson Rocha, que presidiu a Comissão de Assuntos Carcerários da OABMG, ao dizer em uma palestra que o importante é resolver o problema do cliente.

Outra boa oportunidade ímpar de desmistificar a realidade do cárcere é a participação como advogado em julgamentos realizados pelos Conselhos de Disciplina das Unidades Prisionais. Tem-se sempre uma sensação de que a presença do profissional do direito externo ao estabelecimento, acolhidas ou não suas teses, traz um novo ar ao exame dos cotidianos daqueles profissionais.

Hoje a evolução chegou e se assentou no sistema. Ao menos na região metropolitana de BH o espaço das delegacias está separado das unidades prisionais e praticamente em todos os presídios há um belo e confortável parlatório, alguns munidos de TV, geladeira, banheiros privativos e até computador com um recepcionista que auxilia o advogado na sua chegada.

Mudanças para melhor que não tiram a primazia de compreender a partir deste universo singular as mazelas da humanidade. Seja parando e pensando nos atos bárbaros praticados pelas pessoas que ali palmilham, seja pela ótica do tratamento que a sociedade delega a este ambiente, muitas vezes sem refletir que não cuidar ou desconhecê-lo pode reproduzir suas mazelas ao invés de prevenir e evitar.

*Advogado e Membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MG

Hoje em Dia:



Ribeirão das Neves.net


O Debate:



Informe Jurídico:




O Norte:

A lição de Janaúba

*Wagner Dias Ferreira

Certa feita, fui contratado para atuar na causa de um cidadão da terceira idade, com hábitos exóticos, que foi preso em Belo Horizonte e levado para o departamento de investigações da Lagoinha. Tratava-se de um processo antigo, onde com certeza a questão já deveria estar prescrita ou bem próxima disso. No entanto, o princípio da legalidade, que muitos confundem com burocracia, necessário para dar segurança jurídica, e que rege os atos do Estado, estava a exigir uma decisão judicial que primeiro libertasse o homem para aguardar a solução da querela em liberdade e depois que desse fim a essa querela.

As peculiaridades do caso o tornam singular para esse momento de Minas Gerais. Primeiro o fato antigo que gerou toda a situação processual e a prisão em Belo Horizonte ocorrera na cidade de Janaúba/MG.

É importante ressaltar que a família do homem preso não sabia desses fatos antigos. Constituída bem depois dos acontecimentos nunca souberam antes desta situação. Daí, após combinar o custeio das despesas e os honorários para a ação emergencial do advogado com familiares do homem preso, houve o deslocamento até o estabelecimento prisional para conversar com o homem de hábitos exóticos onde mais informações sobre o acontecimento antigo foram trazidos ao profissional.

Depois dessa conversa, foi necessário o deslocamento até a cidade de Janaúba. Após fazer um lanche na própria rodoviária, o advogado pegou um táxi para saber onde se localizava o Fórum, no ponto onde há grande oferta de deslocamento para o Projeto Jaíba, o que desperta a curiosidade, mas não para aquele momento.  

Chegando ao Fórum da cidade de Janaúba ainda não eram 7 da manhã. O advogado se sentou em um banco de praça para observar a movimentação e quiçá conseguir entregar o seu pedido de liberdade antes das 12 horas, afinal, em BH os pedidos podem ser entregues a partir de 8 horas. Por volta de 7h45, um homem abriu o fórum e entrou cerrando a porta atrás de si. De forma que com a porta sempre fechada o pedido do advogado somente pode ser entregue às 12 horas mesmo.

No fim do dia, quando encerraram as audiências ao entrar no gabinete do juiz para despachar o pedido e tentar retornar a Belo Horizonte no mesmo dia, qual foi a excelente surpresa do advogado ao constatar que aquele primeiro servidor público que abrira o fórum bem cedinho era o juiz. E que ainda trabalhava ali numa jornada que já superava as 12 horas.

O despacho foi proferido, o alvará foi entregue e o advogado pôde retornar no mesmo dia. Aquele juiz mostrou ao advogado que a magistratura tem seus exemplos de dedicação e solidariedade com os pares, fazendo aumentar o respeito pelo múnus dos magistrados.

Esse caso é contado como um reconhecimento de que a cidade tem um espírito forte e envolve a todos que nela se instalam ou a ela convergem. Como fez com aquele juiz. E é este espírito forte que agora no momento difícil da cidade está a ser observado nas famílias das vítimas e no heroísmo da professora que deu a vida pelos alunos e de suas colegas que sofreram queimaduras na luta pela vida.

Eu admiro Janaúba e me solidarizo com seu povo de quem aprendo a força para viver um nível acima do padrão das pessoas normais, como eles fazem.


*Advogado e Membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MG

domingo, 8 de outubro de 2017

CDH acompanha depoimentos na corregedoria da PMMG

Em mais uma atuação da COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS (CDH) da OABMG,  acompanhei, nesta sexta-feira, dia 6, junto com os colegas advogados Thales Viote, Mariana Septimo e Carolina. Além de William Santos, presidente da Comissão, a oitiva de depoimentos perante a Corregedoria da PMMG na Cidade Administrativa.