Advogado: o ser e o ter
Wagner Dias Ferreira*
Todo
estudante de direito, ao aprender sobre a ética da profissão e quando está para
entrar no mercado de trabalho, defronta-se com a pergunta que invoca o
reconhecimento das expressões “ser” ou
“ter”.
O aluno,
já no fim do curso, precisa decidir se vai “ter” a profissão de advogado ou se
ele vai “ser” um advogado. Contradição apenas aparente porque, na verdade,
muito antes da aprovação para fazer o curso, ele e todos à sua volta sabem a
resposta.
Ter
a profissão de advogado faculta à pessoa navegar nas inúmeras possibilidades
profissionais que a formação jurídica abre na vida do cidadão. Hoje, os cargos
públicos obtidos mediante concurso são um atrativo. Vale lembrar que, em um
passado não muito distante, a atividade privada já se mostrou mais convidativa
que a pública. Ainda se encontram nichos assim. Os servidores públicos tão
valiosos não recebem do Estado a atenção que lhes é devida. Ainda há muito por
melhorar e essa melhora não será sem luta. As carreiras públicas vêm sendo cada
vez mais subjugadas pela pressão de terceirizações e pela prática frequente do
assédio moral e institucional.
Ser advogado
é diferente. Seu corpo fala, por vezes grita, e em absolutamente tudo se assume
uma posição construindo os argumentos e postulados a serem sustentados. Ser um
advogado é um modo de viver, dialogado ao extremo, mas sempre com aquela enorme
disposição de lutar. Mesmo quando você está na praia relaxando, ao trocar duas
palavras com uma pessoa, ela faz a indagação mágica: Você é advogado?
Viver
sendo advogado é exigente. Por vezes cansativo, mas é nobre. Em um velho livro
de prática forense, o autor afirma: essa profissão irá garantir a sua
dignidade.
Entre
aqueles que são advogados há uns raros casos de maior impetuosidade. Gente que
gosta de estar na linha de frente das batalhas e da abertura de espaços para o Direito
e a Cidadania avançarem. São os advogados que acrescentam ao seu modo de “ser”
a defesa dos Direitos Humanos.
É
como se atendessem o chamado da Lei 8906/94: defender a Constituição, a ordem jurídica do Estado Democrático de Direito,
os direitos humanos, a justiça social e promover o aperfeiçoamento da cultura
jurídica.
Esses advogados brigam, lutam por direitos humanos e justiça social. Às
vezes conquistam direitos e garantias importantíssimos e, às vezes, perdem as batalhas, perdem direitos
e não raras vezes perdem suas vidas. Mas sempre o direito se aperfeiçoa em
razão dessas batalhas, é como se aquele ímpeto ressurgisse mais vigoroso sempre.
Nesse um quarto do primeiro século do terceiro milênio, a Ordem dos
Advogados do Brasil Seção Minas Gerais (OAB/MG) inicia um novo mandato
compromissada com os Direitos Humanos e a Cidadania, que todos os trabalhos a
serem desenvolvidos pelas pessoas que “têm” a profissão de advogado e “são”
advogados possam fazer avançar a cultura jurídica, consolidar a Democracia e
garantir os Direitos Humanos.
* Presidente da
Comissão de Direitos Humanos da OAB/MG