*Wagner Dias Ferreira
A frase do Êxodo dita por Deus a
Moisés – Eu Sou – inaugura, na Teologia Judaico Cristã, uma infinidade
de probabilidades para o pensar humano e para o seu existir e fazer cotidiano. Questionamento
também presente na pergunta de William Shakespeare – Ser ou não Ser? – palavras
que convidam todos a sempre refletirem sobre sua própria imanência e sua
essência, concatenada com suas ações práticas.
É muito comum que se escute pelos
corredores do Fórum que a advocacia é um Sacerdócio em razão de uma série de
peculiaridades que aproximam o fazer dos advogados daquele exercido pelos
ministros religiosos. Inclusive, houve tempo no passado em que os julgamentos
eram feitos por padres. Basta ver a história de Santo Ivo.
Há, hoje, os advogados que
empresariam a atividade e prestam serviços de forma muitíssimo organizada a
ponto de ganhar muito dinheiro. O que não é errado e também ajuda no progresso
humano. Mas a regra, para os que observam o comportamento dos profissionais
transitando os corredores dos prédios do judiciário são aqueles que no todo ou
em parte estão a exercer um sacerdócio.
Sempre há aquela pessoa que para você
para tirar uma dúvida. Ou, com a desculpa de perguntar onde fica tal lugar,
aproveita para pedir uma explicação de algo que está escrito na informação
processual que traz impressa ou na intimação que recebeu em casa. Pessoas que
vão ao Fórum tentar a sorte para localizar um advogado, eis que o Fórum é onde
estes profissionais em regra estão.
E, se não a totalidade, a imensa
maioria dos profissionais acode a situação com algum consolo para a pessoa que
precisa de acolhimento, amparo e orientação.
Isso é fácil quando a pessoa já se
apresenta com trajes alardeando sua condição de vulnerabilidade e até com
dificuldade para se expressar. Muitas vezes a matéria da dúvida é um direito
familiar, ou cível, ou do consumidor e, porque não, trabalhista. A essas
pessoas não são raros os que acodem para conversar e orientar.
Difícil é ver a pessoa acudir aquele
que praticou um crime. Mesmo entre os criminalistas, há os que, por questões de
foro íntimo, não atuam em causas específicas. Os que não fazem júri, seja por
inibição ou por convicção moral, os que não fazem defesa em crimes contra a
mulher por convicção moral, há os que não defendem traficantes pelo dano que
provocam à sociedade e às famílias.
Assim, há entre os advogados aqueles
que marginalizam determinado tipo de clientela em potencial.
Mas há aqueles advogados que atuam
sem reservas. Que pegam aquelas causas perdidas dos clientes impossíveis.
Aqueles clientes que mesmo a Defensoria Pública recusaria se pudesse. Não é
raro ver manifestações da defensoria se recusando a atuar em processos em que o
acusado aparenta pela natureza do crime possuir condições econômicas, obrigando
os juízes a nomear defensores dativos que vão se recusando sucessivamente até
que algum advogado, desses, sem reservas, aceita o múnus.
Trabalhando com um desses advogados,
os sem reservas, ficou registrada em minha alma imortal uma frase que não se
pode esquecer : “Os colegas, na sua maioria, trabalham como advogados. Eu
sou advogado”.
Registro neste artigo minha homenagem
ao colega e amigo GILBERTO LUIZ ZWETSCH, OABMG 35.187, que faleceu no ultimo
dia 17 de julho de 2017, que me ajudou a deixar o degrau dos que trabalham como
advogados e subir ao patamar dos que são advogados.
*Advogado e Membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MG
Este artigo também foi publicado no site Informe Jurídico e no Migalhas
Lamentável a perda desse grande colega. Também convivi com um excelente advogado, mam à epoép não tive maturidade ou sapiencia suficiente para sugar todo seu saber...
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