Aceitar e mudar para existir
*Wagner Dias
Ferreira
No tempo de Jesus, havia
grande agitação na Palestina. Um grupo chamado de Zelotes vinha provocando
enormes perdas aos romanos. O Império Romano chegou a nomear um Governador para
ser a mão forte do império: Pôncio Pilatos.
E foi neste ambiente de
agitação e fortes confrontos que surgiu a voz mais importante da humanidade
ocidental nos dois últimos milênios. A voz de Jesus. Refere-se a uma voz porque
não há nada assinado por Ele, mas por pessoas que a ouviram.
Quase dois milênios
depois, uma forte agitação na Europa - Revolução Francesa - trouxe ao mundo muitas mudanças. Provocando
para os humanos um novo jeito de existir. Do mesmo modo que os seres humanos
enfrentam uma realidade inédita. Mais uma vez são desafiados a reavaliar seus
conceitos e valores.
Assim como os romanos
foram conduzidos a mudar de um politeísmo para um monoteísmo em razão do
cristianismo. E praticamente todo o ocidente foi conduzido a mudar de um regime
feudal monárquico para um regime capitalista selvagem.
Uma pandemia já instalada
em todo o mundo estabeleceu um forte conflito entre os que querem manter a
selvageria do capital e aqueles que estão aceitando a proposta da natureza para
que os homens repensem sua existência.
Não são raros os
reconhecimentos de que a poluição diminuiu e alguns aspectos da natureza
melhoraram com a redução de atividades humanas.
Como a doença COVID 19 é
de alto potencial de contágio, alcançando enorme grupo de pessoas antes que se
possa ter estudos seguros sobre ela e de como enfrentá-la, além de uma forte
cooperação internacional para seu combate foi extremamente necessário
reconhecer a necessidade de ajudar pessoas antes invisíveis, já que a pandemia
vem obrigando as pessoas a restringirem seus movimentos e ações, tudo em nome
da redução na velocidade de contágio, o que expõe mais rápida e severamente
essas pessoas vulneráveis, que dependem integralmente do movimento social para
sua sobrevivência.
O mundo do Direito,
marcadamente o judiciário, conhecido pela demora em definições, preocupação que
já aparece na Declaração Interamericana de Direitos Humanos, quando esta
registra em vários pontos do texto a expressão “sem demora”, encontra-se
premido em ambiente de pandemia a rever seus modos de agir e decidir.
O Supremo Tribunal
Federal rapidamente deliberou que os governadores e prefeitos têm autonomia
para decidir sobre as restrições a atividades e isolamento social, assumindo
protagonismo ante a necessidade de mudar para existir. Evidentemente, porque
observou a inapetência do Executivo Federal nestes assuntos.
Muitas adaptações vêm
sendo implantadas e aceleradas para tramitação dos processos judiciais.
Inclusive a utilização do Google Drive para disponibilizar, digitalmente, autos
processuais físicos, já que não há atendimento presencial nos fóruns.
A forte determinação
anterior para não se fornecer informações processuais por telefone, exigindo
excessivamente a presença física do advogado nos fóruns foi substituída por
atendimento telefônico ou por e-mail. De qualquer forma, a tecnologia se impõe
como uma forte mudança no mundo moderno. Não só no campo do Direito, a
tecnologia vem suprindo muitas lacunas que emergiram entrelaçadas no tecido
social.
Assim como o Império
Romano sofreu mudanças a partir da existência de Jesus, e o mundo ocidental a
partir da Revolução Francesa, agora todo o planeta sofre mudanças por causa de
uma pandemia, num contexto em que há avanços tecnológicos que assumiram caráter
de imprescindibilidade para a vida social.
Aceitar e se adaptar à
nova realidade é algo que precisa continuar, assim como precisaram fazer, mesmo
com certo sofrimento, aqueles que viveram mudanças no passado. E em todos esses
casos, um certo grau de espiritualidade, que sempre ajudou os seres humanos em
suas crises, pode certamente ajudar muito a ter uma nova atitude diante da vida
e da natureza.
*Advogado Criminalista
Artigo já está disponível na minha coluna na revista Dom Total:
Amaivos
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