Pesquisar este blog

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Artigo do mês de agosto na imprensa

Desta vez, o jornal O Tempo foi o primeiro a publicar meu artigo. Neste mês, homenageio o advogado Vicentão e Vander Lee, que faleceram semana passada e, apaixonadamente, abraçaram causas sociais.

Ser romântico é ser eterno

* Wagner Dias Ferreira

No mês de agosto morreu um admirado advogado, o elogiável e combativo Vicente Gonçalves. Para muitos, o Vicentão. Com grande história de lutas pelos pobres, ele com certeza me ensinou a humildade como técnica de trabalho. No mesmo mês, aliás na mesma semana morreu Vander Lee, o poeta romântico.

Certa feita havia um júri a ser realizado na Comarca de Santa Luzia, Minas Gerais, onde a bancada de defesa seria compartilhada por três advogados eu, o advogado Vicente Gonçalves e um bom amigo que ele sempre chamou de “Quas, quas, quas” carinhosamente. Quando aguardávamos o início dos debates eu ansiosamente quase como um aluno no primeiro dia de aula perguntava ao colega Vicente sobre a tese defensiva, que estava preparada para ser legítima defesa, e como dividiríamos a dissertação de defesa, e o dr. Vicente, humildemente, mas com uma segurança apaixonante disse: “é preciso esperar para ver o que o promotor vai falar”. Esse momento foi há cerca de 10 anos.

No mesmo dia e depois, ao longo do exercício da atividade profissional, ter aprendido a esperar o Ministério Público antes de me armar mostrou-se extremamente importante. Muitas vezes me deparei com situações onde o promotor de justiça, mesmo sendo parte acusadora, e tendo levado o processo até o plenário do júri no momento de falar pediu a absolvição do acusado, e em outras tantas vezes pediu uma condenação abdicando de circunstâncias qualificadoras o que já atendia a principal tese defensiva.

Em outras oportunidades, após ver o promotor de justiça concluir a exposição de suas razões muitas coisas que ele disse puderam ser usadas contra ele mesmo ou puderam ser invocadas na fala defensiva sem a necessidade de releitura de peças processuais o que por vezes prejudica a concentração em explicar aos jurados a tese central de defesa. Conviver com Vicente foi aprendizado que permanecerá.

Na mesma semana morreu o cantor e compositor Vander Lee. A obra dele me ganhou com a música Românticos. Nela, ele diz que “românticos são uma espécie em extinção” e que romântico é aquele que pede perdão mesmo quando tem razão.

O romantismo foi um movimento que afetou a arquitetura, a literatura, a música e as artes em geral de uma época. Tendo no Brasil elevado nomes como o do poeta Castro Alves, reconhecido por sua obra poética comprometida com transformações na sociedade da época, notadamente pela extinção da escravatura.

Esse tipo de romantismo não se confunde com o pensamento melado de uma relação entre duas pessoas, mas com o comprometimento com uma causa, onde se abdica do próprio ter razão para levar esta causa a uma transformação social. Lembrando que toda transformação social é uma transformação jurídica.

Assim, o romantismo de Vander Lee, que militou para o Movimento Sem Terra, inclusive, uma de suas últimas apresentações foi no Festival Nacional de Arte  e Cultura da Reforma Agrária, o aproxima de Vicente Gonçalves. Ambos são românticos no sentido de que o compromisso social e político com transformações da sociedade os tornam dignos de serem lembrados e reverenciados, como Grandes Homens Brasileiros e que produziram por seu simples existir efeitos permanentes no universo.


* Advogado e Membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MG

Confira onde o texto já foi publicado:

O Tempo: 

Nenhum comentário:

Postar um comentário