A convenção de 1999 da Organização Internacional do Trabalho
(OIT) enfatiza que muitas crianças e jovens estão envolvidos nas piores formas
de trabalho infantil. “A criança não está onde deveria estar, a sociedade precisa
exigir educação de qualidade”, provoca Marisa.
De acordo com ela, o tráfico é o protótipo da sociedade de
consumo, expressa toda a violência nela embutida e produz ainda mais
violência. “No tráfico, ora os jovens
são indispensáveis, ora são descartáveis. São vítimas, mas, muitas vezes,
tornam-se algozes”, diz. E, ao falar da discussão sobre a redução da maioridade
penal, Marisa propõe pensarmos na situação e não no indivíduo.
No final da palestra, os organizadores abriram espaço para
perguntas. A vice-diretora do Instituto Direitos Humanos começou o debate pedindo
para Marisa Feffermann falar sobre as consequências da legalização das drogas.
“O tráfico é que é violento. Ele produz a violência. Sou a favor da regulação,
mas, sou contra menor usar drogas. O tráfico é consequência do proibicionismo”,
avalia Marisa.
Em seguida, o advogado Wagner Dias Ferreira associou uma
passagem do livro de Marisa Feffermann com o próprio trabalho que desenvolve
como advogado criminalista e o que desenvolveu no Programa de Proteção a
Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM) para que a conferencista
analisasse o papel das mães de jovens envolvidos com o tráfico.
“A questão da mãe é mais complicada. Ela é responsabilizada
por trabalhar e deixar o filho em casa, depois é responsabilizada pelo filho
ter entrado no tráfico e, ainda, quando o filho é preso tem que passar pela
revista vexatória para visita-lo. Ela é sempre humilhada. A mãe tem que ser
empoderada, inclusive, dou palestras dizendo que ela pode dizer não para o
filho”, explica Marisa.
Em seu livro, Marisa diz: “na pesquisa pôde-se perceber que,
na maioria dos casos, a mãe é figura muito presente. No discurso dos jovens, a
figura da mãe é muito importante, tratam-nas com deferência, são as pessoas em
quem podem confiar. A preocupação de não magoá-las é constante, mas isto não os
impede de continuar cometendo
transgressões. A mãe representa a continência e proteção. Algumas sabem
que o filho está envolvido no tráfico e fazem de tudo para que ele saia. Outras
não.
Quando o jovem está devendo dinheiro, são elas que procuram
formas para pagar o traficante. Se o jovem é preso, são elas que contratam o
advogado, caso o tráfico não o faça. Algumas não suportam o fato de o filho
estar inserido no tráfico de drogas e fazem de tudo para mudar a situação.”
Marisa Feffermann é doutora em psicologia escolar e do
desenvolvimento humano pela Universidade de São Paulo (USP), onde atua, é
professora da faculdade Montessori e pesquisadora do Instituto de Saúde do
Estado de São Paulo.
A conferência é uma iniciativa do Instituto Direitos Humanos DH e Lab Trab/UFMG.
A conferência é uma iniciativa do Instituto Direitos Humanos DH e Lab Trab/UFMG.